
ela deslocava-se lentamente por entre as mesas do café apinhado para conseguir chegar à rua. contornava-as com cuidado, não fosse bater em algo ou um cliente mais distraído chocar contra ela enquanto se virava para ir ao balcão. ela não falava com ele há mais de um mês e andou a tentar enganar-se, só a si mesma, com outra pessoa. quando chegou finalmente à rua, sentiu o telemóvel vibrar no bolso. era o outro, com quem ela firmemente tentava iludir-se. não lhe respondeu, afinal, aquela farsa já tinha sido descoberta e agora só se detinha a pensar que já fazia mais de um mês que recebera notícias de quem ela realmente queria saber. mesmo que tivesse uma pequena vontade de responder à mensagem, não conseguia pois as 725 mensagens já com um mês e uns dias dificultavam a vida ao pobre telemóvel. ainda pensou em apagá-las, assim todas de uma vez, mas ela nunca apagava sem saber o que lá estava contido, portanto detinha-se a lê-las e no final, era-lhe impossível desprender-se. compreenda-se, ela nunca gostou dele, mesmo agora que se apercebeu que tem saudades, não gosta dele. no fundo, só tem saudades, porque a farsa que andou a usar nestas últimas semanas foi abaixo e já não tem nada. compreenda-se, ela nunca irá gostar dele, mas ficará sempre mais satisfeita se pensar que gosta. e principalmente, que ele gosta também.