escrevo-te aqui hoje, porque já não passam de memórias.
tenho-me lembrado de ti, sabes? normalmente proíbo-me a esse tipo de comportamento, mas tem sido impossível não fazê-lo. talvez porque já esteja a fazer quase um ano que te conheço, quem sabe. (já viste como o tempo passa rápido?) li conversas nossas e admito-te que ainda deitei umas lágrimas, porque a verdade é que em todo este tempo, apesar de já ter tido algumas surpresas e momentos felizes, não houve nunca ninguém (e sublinho a parte do ninguém) que te conseguisse substituir. tu mudaste a minha vida, a minha forma de encarar o amor, até a minha personalidade. desde aquela noite de verão que deixei de confiar nas pessoas, especialmente em rapazes. deixei de me apaixonar completamente, ganhei medo. perdi a capacidade de me encantar com pequenas palavras e tirar conclusões a partir dessas. deixei de esperar que alguém me protegesse como tu dizias que irias fazer sempre. já não espero por príncipes porque já não tenho ninguém que me chame de princesa como tu me chamavas.
há uns dias perguntaram-me se eu alguma vez tinha gostado realmente de alguém. respondi afirmativamente e sabes, nem pensei em ti. mas, agora que penso, não posso negar que havia ali realmente qualquer coisa. não digo que me tenha apaixonado por ti, porque não me apaixonei. acho que o termo mais correcto seja que eu me encantei por ti. encantar, é uma forma de amor. mais bonita até, se possível. encantava-me quando me dizias que me adoravas muito, muito mesmo, mais que eu até, e principalmente: quando me fazias acreditar realmente nisso. encantava-me quando me dizias que me irias sempre proteger. encantava-me com a maneira com que me conseguias por sempre melhor depois de um dia de merda. isto foi na altura em que eu ainda era frágil e infantilmente apaixonada. como as grandes coisas e as mais importantes na vida: bastou um deslize. bastou uma falha naquela noite para tudo acabar. quem me dera ser naquele dia como sou agora. teria tido muito mais facilidade em falar contigo. mas a verdade é que só assim sou actualmente, devido a ter sido de maneira diferente nessa altura. aprendi muito, verdades gerais para a vida inteira e principalmente, cresci como pessoa. durante muito tempo senti-me vazia, mesmo vazia. quando já não há nada cá dentro, sem ser os órgãos a trabalharem e nós apenas sabemos que eles lá estão. quando sentimos o sangue a entrar nas aurículas, mas sem sentirmos mais nada. senti-me vazia, como se já não tivesse alma ou o que quer que tenhamos cá dentro. o vazio foi-se preenchendo, muitas vezes com coisas banais, e hoje está quase cheio. às vezes uma ou outra das coisas banais desaparecem e eu sinto outra vez o buraco a instalar-se. foste das pessoas que mais me mudaram, que mais me marcaram, e a verdade é que quase nunca me lembro de ti.