sais e voltas a entrar. arranjas-te e voltas a sair. sempre com pressa. tropeças, cais. rasgas-te toda. e nunca sabes ao certo se te magoas, porque no fundo voltas sempre a cair. é normal em ti. és tu assim. em cada passo trocado encontras-te, inventas-te e dizes sempre a sorrir que és assim.
não te importas com as nódoas negras que a vida te vai deixando nos joelhos. nem te incomoda as mãos arranhadas. tens as calças todas rasgadas e nem dás conta. sempre com pressa de tropeçar noutra esquina. sempre sem medo de te magoares, porque no fundo, nem sabes ao certo se te magoas.
já conheces o chão de cor. já lhe sabes o cheiro. e gostas. ou então gostas de fazer de conta que gostas, para não terem pena de ti quando te virem estendida no chão depois de mais um passo enganado.
cais e levantas-te, só para mais tarde teres o prazer de cair outra vez. vives a tropeçar nas pedras, nos degraus, nas pernas dos outros, nas tuas. vives a vida a lamber o chão. e finges que gostas. e nunca sabes ao certo se te magoas.
já conheces o caminho de cor e salteado para todos os sítios que podes ir, mesmo assim não consegues não tropeçar. deve ser essa tua mania de ir a dançar. essa tua mania de estar sempre a olhar as gaivotas. deve ser essa tua mania de te atirares para o chão, para fingir que não sofres, para fingir que és forte. só para tu acreditares.

escrevo-te aqui hoje, porque já não passam de memórias.
tenho-me lembrado de ti, sabes? normalmente proíbo-me a esse tipo de comportamento, mas tem sido impossível não fazê-lo. talvez porque já esteja a fazer quase um ano que te conheço, quem sabe. (já viste como o tempo passa rápido?) li conversas nossas e admito-te que ainda deitei umas lágrimas, porque a verdade é que em todo este tempo, apesar de já ter tido algumas surpresas e momentos felizes, não houve nunca ninguém (e sublinho a parte do ninguém) que te conseguisse substituir. tu mudaste a minha vida, a minha forma de encarar o amor, até a minha personalidade. desde aquela noite de verão que deixei de confiar nas pessoas, especialmente em rapazes. deixei de me apaixonar completamente, ganhei medo. perdi a capacidade de me encantar com pequenas palavras e tirar conclusões a partir dessas. deixei de esperar que alguém me protegesse como tu dizias que irias fazer sempre. já não espero por príncipes porque já não tenho ninguém que me chame de princesa como tu me chamavas.
há uns dias perguntaram-me se eu alguma vez tinha gostado realmente de alguém. respondi afirmativamente e sabes, nem pensei em ti. mas, agora que penso, não posso negar que havia ali realmente qualquer coisa. não digo que me tenha apaixonado por ti, porque não me apaixonei. acho que o termo mais correcto seja que eu me encantei por ti. encantar, é uma forma de amor. mais bonita até, se possível. encantava-me quando me dizias que me adoravas muito, muito mesmo, mais que eu até, e principalmente: quando me fazias acreditar realmente nisso. encantava-me quando me dizias que me irias sempre proteger. encantava-me com a maneira com que me conseguias por sempre melhor depois de um dia de merda. isto foi na altura em que eu ainda era frágil e infantilmente apaixonada. como as grandes coisas e as mais importantes na vida: bastou um deslize. bastou uma falha naquela noite para tudo acabar. quem me dera ser naquele dia como sou agora. teria tido muito mais facilidade em falar contigo. mas a verdade é que só assim sou actualmente, devido a ter sido de maneira diferente nessa altura. aprendi muito, verdades gerais para a vida inteira e principalmente, cresci como pessoa. durante muito tempo senti-me vazia, mesmo vazia. quando já não há nada cá dentro, sem ser os órgãos a trabalharem e nós apenas sabemos que eles lá estão. quando sentimos o sangue a entrar nas aurículas, mas sem sentirmos mais nada. senti-me vazia, como se já não tivesse alma ou o que quer que tenhamos cá dentro. o vazio foi-se preenchendo, muitas vezes com coisas banais, e hoje está quase cheio. às vezes uma ou outra das coisas banais desaparecem e eu sinto outra vez o buraco a instalar-se. foste das pessoas que mais me mudaram, que mais me marcaram, e a verdade é que quase nunca me lembro de ti.

imagina que te escrevo em voz baixa. falamos sempre baixo quando queremos que acreditem nas nossas palavras, e tudo o que aqui te escrevo é verdade. escrevemos porque ninguém ouve. escrevo-te porque estás longe, numa cidade onde o nevoeiro roubou o ar ao sol e as pessoas pensam mais do que sentem. se estivesses agora aqui ao meu lado, sorririas (como irás sorrir mais tarde) ao ler a minha descrição sobre esse teu insípido local onde vives. se ao menos estivesses aqui comigo, eu abraçava-te e falava-te das minhas manhãs. de como o meu avô ainda me vem chamar à cama às 6h50 e eu afasto logo os lençóis da cama só porque não quero que ele diga mais alguma coisa (sabes como eu odeio que me falem quando estou a acordar). dizia-te como desço as escadas e como o pequeno-almoço, já preparado quando chego, de olhos fechados. se aqui estivesses, eu podia contar-te que demoro mais de meia-hora a arranjar-me porque fico metade desse tempo sentada a pensar, a pensar muito nas minhas coisas. a seguir descreveria-te a minha saída de casa e o frio que sinto sempre nas mãos porque eu sou muito do calor e sabes como odeio luvas ou qualquer outro meio de aquecimento. queixaria-me a ti da minha espera de quase dez minutos cada manhã, no ar gélido, da minha boleia para ir para a escola. por fim, falaria-te de mim, para que me pudesses conhecer novamente (porque eu mudei em algumas coisas) e diria-te do fundo do coração ou do fundo do que quer que seja quando queremos dizer que estamos a falar muito a sério: tenho saudades tuas.


when adults say, "teenagers think they are invincible" with that sly, stupid smile on their faces, they don't know how right they are. we need never be hopeless, because we can never be irreparably broken. we think that we are invincible because we are. we cannot be born, and we cannot die. like all energy, we can only change shapes and sizes and manifestations. they forget that when they get old. they get scared of losing and failing. but that part of us greater than the sum of our parts cannot begin and cannot end, and so it cannot fail.