sais e voltas a entrar. arranjas-te e voltas a sair. sempre com pressa. tropeças, cais. rasgas-te toda. e nunca sabes ao certo se te magoas, porque no fundo voltas sempre a cair. é normal em ti. és tu assim. em cada passo trocado encontras-te, inventas-te e dizes sempre a sorrir que és assim.
não te importas com as nódoas negras que a vida te vai deixando nos joelhos. nem te incomoda as mãos arranhadas. tens as calças todas rasgadas e nem dás conta. sempre com pressa de tropeçar noutra esquina. sempre sem medo de te magoares, porque no fundo, nem sabes ao certo se te magoas.
já conheces o chão de cor. já lhe sabes o cheiro. e gostas. ou então gostas de fazer de conta que gostas, para não terem pena de ti quando te virem estendida no chão depois de mais um passo enganado.
cais e levantas-te, só para mais tarde teres o prazer de cair outra vez. vives a tropeçar nas pedras, nos degraus, nas pernas dos outros, nas tuas. vives a vida a lamber o chão. e finges que gostas. e nunca sabes ao certo se te magoas.
já conheces o caminho de cor e salteado para todos os sítios que podes ir, mesmo assim não consegues não tropeçar. deve ser essa tua mania de ir a dançar. essa tua mania de estar sempre a olhar as gaivotas. deve ser essa tua mania de te atirares para o chão, para fingir que não sofres, para fingir que és forte. só para tu acreditares.