faz hoje um ano. faz um ano que estamos vivas e com, talvez, uma nova forma de ver as pequenas coisas da vida. talvez hoje já não saiba bem conjugar a frase "tenho tanto medo" como a conjuguei no intervalo daquelas ondas. talvez hoje já não saiba agradecer como vos agradeci a minha vida naquele dia. provavelmente já não sei sentir o que escrevi há um ano atrás quando dizia "... acho que tenho que pedir desculpa por continuar a ser a única que o corpo ainda cheira a mar, que a garganta ainda continua em carne viva, por continuar a ser a única que o olfacto só distinga o cheiro a maresia, que ainda consiga sentir a água salgada na boca e que o cérebro ainda flutue algures perdido nos pensamentos e recordações daquele dia." talvez nem sempre consiga sentir isso - talvez tenha sido uma defesa do cérebro - mas lembro-me. lembro-me de tudo como se fosse hoje e por vezes ainda tenho a sensação de estar a engolir água. isso é uma coisa que tenho a impressão nunca me abandonará. mais importante do que tudo, ainda me lembro que foi ali que vi as acções que até hoje mais me marcaram. foi a amizade verdadeira, sem tretas, sem obstáculos, sem máscaras. foi a amizade no meio da sobrevivência, o puro amor. ali estavam as pessoas que ainda hoje admiro, pela força, pela beleza, por tudo o que há dentro delas. amo-vos
adoro o desprezo com que as pessoas de coração partido dizem: "mais vale só que do mal acompanhado/a". adoro a forma como elas acreditam nisso nos 5 segundos seguintes. e depois naquelas cabeças bem sei que se vai repetir o resto do dia "foda-se, isto é tão mentira." eu sei coisas.
sei que nunca mais vão existir momentos mágicos. o ilusionista desapareceu no seu próprio espetáculo e acabaram-se os truques. já não há nada na manga, nem baralhos de cartas que enganem a nossa vista. tudo o que é verdadeiro, está colocado em cima da mesa, para todo o mundo ver e comprovar. é pouco mas já nem com truques de ilusionismo iludimos alguém.
dizer que foste a única pessoa que amei é uma forma singular de dizer que nunca amei mais ninguém. que é, logo, o mesmo que dizer que nos últimos tempos não fiz mais que mentir. mas sendo assim, por favor, ajuda-me a descobrir o porquê de me faltar o ar quando todos os outros me deixam.
mensagem 227
P. gosta de desenhar na sua mente aspirações cor violeta e bombons de chocolate. gosta de amores inacabados e de escrever ao final da tarde. tem a seiva do trigo e o mel nas ondas dos seus cabelos. contém o castanho das terras intocadas preso no seu olhar. relaciona, emociona, faz sorrir e acreditar.