
nunca soube falar-te mais do que em metáforas. foste sempre a única pessoa a percebe-las, por mais profissional que eu me tenha tornado a dizê-las. metáfora não é uma forma de subentendimento. aqui não ficam palavras por dizer ou sentimentos escondidos que alguém percebe. numa metáfora, diz-se tudo o que se tem a dizer, mas se possível duma forma mais bonita, mais delicada. como sempre entendeste as minhas, eu nunca te escondi nada, nem mesmo as piores coisas sobre mim que eu te contava por via metaforica. a essas chamavas-lhes de geniais e isso incitava-me a melhorar cada vez mais. melhorei imenso, quase profissional, e agora tenho medo que já não as consigas perceber. se não o fizeres tenho a dizer que não me percebes a mim também. é por isto que, por vezes, queria saber-te falar sem ser por metáforas. não queria dizer-te as coisas duma forma delicada, porque eu própria não o sou, mas a verdade é que já ambos estamos habituados a não ser de outra forma. se eu te dissesse agora: vai à merda, aposto que ainda me aplaudirias e genial, gritarias tu. é uma pena.