não estás cá como estarias há um ano atrás e eu sinto-me bem com isso. tenho pena do que nos tornámos. tu não?
a minha casa não cheirou a canela este ano. não passou o natal por minha casa apenas porque não cheirava a canela e porque não estava frio para podermos estar à lareira. sinto-me triste porque eu gostava do natal, antes de toda esta era consumista, sabes. eu gostava do natal porque na minha família era diferente, e tu lembras-te, tu lembras-te porque eu te contava sempre como era.
cheguei ao fim da trilogia do livro que marcou a minha vida. sinto-me estranha por dentro, triste por ter dito adeus a esta parte de mim, por fechar um capítulo que tão boas recordações me traz. sinto-me triste por dizer adeus à sara, à hanna, à camilla, e a tudo o que de bom me ensinaram. tenho agora chico buarque a cantar melancolicamente no quarto para acompanhar a tristeza e já ninguém o faz tão bem como ele.
respirei fundo e decidi que aquela não era vida para mim. endireitei-me, saí de casa, desliguei-me de toda a gente e fui para onde mais gosto de estar. passei dias com amigas, fiquei até às quatro da manhã sentada em cama alheia a falar de tudo e de nada, acordei no dia seguinte cedo e passeei com as pessoas que mais gosto. respirei fundo, recuperei forças e tracei outros objectivos de vida. o ano está quase a acabar e não sei precisar se foi um bom se foi um mau mas para o ano não quero que seja igual certamente.
fazíamos hoje um ano. passou tudo sem eu dar por isso e não consigo parar de me perguntar como é que é possível. como é que tudo isto foi possível. como os dias se sucederam tão rapidamente se nem dei por eles passarem por mim, como me tornei na primeira metade do nosso ano tão centrada em ti, tão apaixonada, tão sem noção, tão sem vida própria e na outra metade uma pessoa tão horrível, como te consegui amar tanto se nunca acreditei em amor, como apesar de tudo não me consigo arrepender nem de um segundo que tenha passado contigo. 
hoje conto apenas pelos dedos de uma mão as pessoas que dizem conseguir ter orgulho em mim e mesmo assim não chego às cinco. é normal, eu não tenho nem sei como elas conseguem. é por isto que agradeço por não estares na minha vida hoje sabes.. para não teres de conhecer quem sou agora. 
fazíamos hoje um ano m. foste a pessoa que mais me marcou e alterou o meu percurso de vida. o teu lugar é insubstituível sem sequer ser possível duvidar. 
fazíamos hoje um ano.. não fazemos.
1 ano. há um ano atrás dei o primeiro passo para o que me fez tornar tão diferente. o tempo passou depressa, muito depressa na verdade. 
fiquei paralisada, o pensamento quebrou-se, os músculos não se mexeram mais. não me lembrava da existência daquele caderno e quando o encontrei foi como se tudo o que se passou naquela fase voltasse só de reler todas as páginas e páginas que tinha escrito a tentar tirar a tristeza instalada já nos ossos. não tinha ideia na altura do que estava a fazer, do erro que cometia. 
basta uma vez. pode ser superficial, mas basta uma vez. ficamos atraídos pelo sangue e pensamos que podemos ficar reduzidos a apenas uma pequena área do corpo, pequenos cortes superficiais que rapidamente saram e desaparecem. rapidamente se descobre que não é assim. a minha pele está a arder, tenho as mãos a tremer e a cabeça pesa. a minha visão está a ficar turva enquanto tento afastar do pensamento, evitar entregar-me. não consigo, não consigo. no entanto, sei que consegui. já se passaram anos e sei que hoje penso no quão incorrecto foi. haverão sempre ideias erradas sobre este assunto porque nunca ninguém o põe em cima da mesa. a verdade é que isto não é coisa de filmes, não somos influenciados por seitas americanas, não o fazemos por sermos crianças. fazemos porque queremos sentir alguma coisa para além do que já sentimos. não é uma questão de ser fraco, é uma questão de ainda não ter aprendido a lidar com os problemas. lembro-me perfeitamente o dia em que deixei de o fazer. estava lentamente a tornar-se um hábito e nem me apercebi. só continuamos porque não sabemos onde nos estamos a meter. basta uma vez. mesmo que superficial, o sangue que sai atrai mais do que afasta. basta uma vez e toda a nossa vida muda. 
as pessoas nunca deviam sair das nossas vidas quando já nos habituámos à sua presença. acontece sempre assim. entram de repente, ficam por um tempo, e logo quando pensamos que as teremos para sempre ou pelo menos durante muito tempo, desaparecem. acontece sempre assim e eu cansei-me disso.
disse-te que tinha saudades tuas, fizeste então uma piada habitual e oh, eu soube logo a razão de gostar tanto da nossa amizade.
a vida passou por mim e disse-me adeus. e eu continuei sentada sem mexer um músculo. podia ser que voltasse e se deixasse de brincadeiras. não voltou e eu estou exausta.
há dias maus, muito maus. e é estranho isso acontecer quando ainda no dia anterior fora um dia bom, muito bom. o meu calendário está trocado, os horários cruzam-se e o que me parecia aceitável já não parece. dói-me a cabeça, uma dor que não passa, e tenho o olho direito a tremer muito desde ontem. sinto-me cansada e as conversas de hoje desanimaram-me. hoje foi um dia mau. muito mau.
perdi a paciência para jogos de sedução. quero alguém que venha para ficar. sem meios-termos ou vontades secretas. já não tenho paciência para olhares que não dizem nada, ou para palavras que não possuem significado algum. sem discussões ou cenas absurdas. perdi a paciência para gente infantil e inconstante. quero alguém que me provoque mil sensações de uma vez só. sem desconfianças ou saídas repentinas. perdi a paciência que tinha, e agora só quero o suficiente para acordar todos os dias com vontade de o fazer.
dormi 16h seguidas e ainda não me sinto descansada. tenho a mente a todo o vapor, o pânico a subir outra vez garganta acima como tinha sempre que falava contigo durante umas horas. o ar começa a faltar, começas a virar a cabeça para todos os lados à procura de uma saída, deixas de ouvir o que te dizem porque na cabeça só há uma voz a gritar, a procurar uma forma de escapares. sabes que queres sair dali, que não queres mais ouvir, que precisas de respirar mas tudo vai sendo controlado. às vezes escapa-se de forma leve, outras é preciso um grito mais elucidativo. mas no final, de ambas as formas, foi um peso que se tirou. o meu não quer sair, e eu vou acumulando tentando não gritar.
deixei de acreditar no amor. desisti de príncipes, desisti de jogos, desisti de querer receber grandes mensagens cheias de coisas como se fossem ditas ao ouvido e tantas outras deixadas por dizer, desisti de encontros, de olhares que não passam despercebidos. desisti de abraços, de beijinhos, de mãos dadas e grandes passeios. desisti de querer contar o meu dia a alguém. desisti de felizes para sempre, porque não há era uma vez. todos os meus era uma vez tornaram-se em daquela vez e normalmente continuaria dizendo o erro que teria cometido. deixei de acreditar no amor e fui mais prática, mais segura, com menos floreados. no fundo, ainda havia uma esperança de me aperceber o quanto estava a fazer errado, mas não. não caí no chão porque já tinha todas as seguranças a postos previamente.. do mal o menos. mas eu chamei-te amor, e.. amor, eu deixei de acreditar em ti. e que triste que isso me parece, não achas?
sê dura com os outros na justa medida em que eles são duros contigo. aprende a ficar quieta quando o mundo te pede que te movas. aprende a calar se queres que se calem. aprende a ouvir nos gestos quem te quer bem quando te abraça e quem te quer mal quando te beija. não te esqueças de arrumar as gavetas das tuas memórias antes de deixar entrar alguém na tua vida. fala pouco, devagar, para teres a certeza de que serás ouvida. fala de tudo e de nada, não te cales se fores interrompida. fala do mundo e do tempo, pouco dos outros e nada de ti. elogia quem te faz bem, afasta do teu caminho quem te quis fazer mal. lembra-te que o orgulho tem mais força que as lágrimas, guarda as dores dentro do peito ou transforma-as em risos. sai antes do tempo, para que nunca se cansem de ti. volta quando não te esperam, fica apenas quando te pedem. ri-te das piadas dos outros, mesmo que não tenham graça. trata bem quem não conheces, desconfia de quem te quer bem de repente.
agitada e noites sem descanso. é assim que me encontro. todas as madrugadas se inserem novos sonhos, cada vez mais estranhos, cada vez mais assustadores, cada vez mais envolventes, na minha mente já exausta. hoje foi mais um, que me envolveu até aos ossos e me fez temer ter perdido a parte mais integra que ainda mantenho. foi negro, e ao mesmo tempo branco, muito branco, com aquelas paredes de hospício, com aquelas escadas intermináveis que conhecia como a palma da minha mão, com aquele corpo, com aquelas pessoas mortas por dentro. e eu que me sentia em casa ali, com as paredes de hospício, com as escadas sem fim, com aquele corpo e com aquelas pessoas desprovidas de interior. tive medo e não consigo fazer com que ele passe.
eu não corro atrás. quem quiser está, quem não quiser vai. eu não ando atrás. deixei-me disso quando percebi que não vale de nada. e mais importante: eu não rastejo atrás. não, nunca. foi, aliás, por nunca estar atrás de nada nem ninguém que caí das escadas abaixo. a mania de querer ir sempre à frente, de ser tão independente que o provável é nem de luz precisar quando não se vê nada a mais de um palmo à frente. sobrevivi apenas com três nódoas negras nas pernas e uma dor aguda nas costas. cheguei ao chão a rir, exactamente como da primeira vez que isto aconteceu. se eu corresse, andasse ou rastejasse atrás talvez a queda tivesse sido amparada não é? mas todos sabemos que não possuo direito algum de arrastar alguém para a minha bola de neve. é por isso que me objecto a todas essas coisas, e continuo a andar à frente de todos, na total escuridão à espera de não por nenhum pé mal e cair estatelada pelas escadas abaixo. se isso acontecer, espero só sair ilesa, no máximo com umas nódoas negras e uma dor no coração, neste caso.
às vezes penso que já não consiga comunicar contigo como em tempos comuniquei. a parte de mim que te pertencia desaparece, esconde-se de nós e dificilmente é encontrada a seguir. por vezes vem-nos espreitar, no meio duma discussão, como que para gozar connosco mas rara vez fica. eu gosto dela. gosto muito dela, na verdade, mas não sou eu. eu sou impulsiva, imprevisível, tenho todas as palavras a quererem sair ao mesmo tempo quando estou irritada e mantenho-me calada quando nada sinto cá dentro. e é isso que se passa ultimamente. eu gostava tanto de te explicar, mas só consigo escrever onde não terei que ler uma resposta porque o meu raciocínio nunca é permitido ser levado até ao fim doutra maneira. não sinto cá nada dentro porque despejei-me de tudo o que algum dia fui. não gostava de mim, assim como tu também não e agora estou calmamente a desfazer-me para construir algo melhor. se tivéssemos que escolher, eu era uma tempestade tropical e tu um lago de águas paradas e talvez seja por isso que nunca soubeste como lidar comigo. não consigo fazer sentido e quero muito comunicar como em tempos o fiz. mas ouve-me com atenção: eu não sou ela. aquela parte de mim vem e vai como as estações e embora eu queira muito que ela fique, eu não sou ela e nunca serei. ouve-me e fixa: sou inconstante e são todas essas fases que me tornaram hoje a pessoa que sou. pegar ou largar. e agora, com mais atenção: sim, continuo a ter saudades tuas, mesmo quando estás por perto. sou patícia, por enquanto e não quero isso.
uma vez alguém disse que a morte não é a maior perda nas nossas vidas. a maior perda é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.
haley, one tree hill
se tivesse de escolher diria que eras a effy sem duvidar. nunca me esqueço da forma com que disseste isto e eu, que nunca tinha percebido sequer alguma semelhança com ela, encontrei-a. filofobia, disseste-me e só há pouco tempo é que me apercebi do que me querias fazer ver. tarde demais, não é? vou sempre tarde demais.
enquanto estive contigo tornei-me noutra pessoa, noutra versão de mim. se melhor se pior não sei, mas certamente mais apagada. não consigo ser assim por muito tempo, eu preciso das minhas coisas, do meu tempo e espaço, da minha energia, da minha felicidade. contigo tinha outra coisa.. tinha amor. não o encontro mais nos dias de hoje, apesar de encontrar as minhas coisas, o meu tempo, o meu espaço, a minha energia e muitas vezes a minha felicidade. eu escolhi-me a mim invés de nos escolher a nós, e não me consigo arrepender, disse-lhe. não me entendeu, como sempre, e eu desisti de tentar.
poucos sabem o porquê do nome deste espaço e muitos me perguntam. gosto de elefantes, sempre gostei. são uns dos animais que melhor memória têm e isso faz-me querer guardar pelo máximo de tempo na memória o que vou vivendo. encontrei essa magia através dos muitos cadernos espalhados pelo meu quarto, da fotografia, dos bilhetes deixados ao acaso com listas para quando eu fosse grande. e todas essas partes de mim têm memórias de elefante. são doze, porque doze foi o número que me partiu o coração, contando com todas as memórias que lhe tenho associadas. e a verdade é que um elefante pode morrer de um coração partido, li algures sobre isso. sou feita de memórias e corações partidos e nunca baixei a cabeça. sou um elefante, no sentido mais metafórico da palavra.
diziam-me sempre isto, como se de remédio se tratasse. andei com as minhas listas sobre o certo e errado a fazer, andei com as minhas ideias como se de remédios se tratassem e dei durante toda a minha vida conselhos. entrei em jogos que nunca quis, enganei pessoas que nunca o mereceram, e iludi sempre que pude. o menos feliz de estar solteira é aperceber-me que de todos os que passaram na minha vida, não houve nunca nenhum que quisesse o suficiente continuar cá ao meu lado. ou então não houve nunca nenhum que eu quis o suficiente que continuasse cá, ao meu lado. diziam-me sempre para me manter longe das pessoas estilhaçadas. afinal parece-me que me tenho de manter longe de mim mesma.
o que não tem remédio, remediado está.
calas-te, pensando que o assunto que te atormenta há já dias e dias se vai embora assim, mas consigo ouvi-lo respirar por trás do teu silêncio. escondes-te de ti própria, colhendo problemas que não são teus, tentando escapulires-te dos teus próprios demónios que não consegues combater à noite quando saem. afastas-te das pessoas para não teres de ouvir as perguntas para as quais não queres ter resposta. e vives assim, enganando com fogos de vista e com frases retiradas de filmes, com um sorriso nos lábios e evitando os assuntos mais problemáticos. vives como se eu não te tivesse entendido há muito tempo atrás, como se eu não soubesse como custa. vives calada, à espera que o que te atormenta há dias se decida a ir embora.
encontrei um bilhete dobrado no bolso de umas calças de ganga antigas, que há muito me deixaram de servir, escrito numa qualquer aula aborrecida e que só lá permaneceu tanto tempo devido à falta de oportunidades para to passar. podia-se ler não estavas lá quando precisei. é essa a minha cena. ainda agora não estás. e eu pensei, que mesmo passado um ano de ter escrito isto, continuas a não estar. o que te mostrei não valeu de nada, e o que te podia dizer também de nada valeria, acredito. ainda bem que não te mandei o bilhete, de qualquer das maneiras.
não sei sinceramente o que esperam de nós. todos nos dizem, não desistas, acredita, mesmo que te tenhas magoado, mesmo que tenhas cometido erros, tenta novamente. é sempre o lema, tenta outra vez, não podes simplesmente desistir do amor. chegam a incluir a célebre parte de não quer dizer que por teres sido magoada, eu te vá magoar, que eu seja como o último. acabamos por meter na cabeça que temos de tentar, que não queremos ser para sempre pessoas com corações de pedra e damos a oportunidade, o salto de fé, colocamos a venda nos olhos e subimos à corda de equilibristas sem rede por baixo. acreditamos sempre que se calhar já passou demasiado tempo desde a última vez que nos desiludimos, que não escolhemos foi a pessoa certa, que temos realmente de tentar. mas e quando falhamos novamente? mas e quando falham para connosco novamente?
amanhã seria um bom dia para nós. para eu ir ter contigo e te falar das novas nódoas negras que adquiri, das novas coisas que me ensinaram, dos erros que cometi. foi contigo que vi o número 11 ganhar formas no meu dia-a-dia e desde que entraste na minha vida, o número nunca mais saiu. brincava com isso, sinistro, dizia. mas hoje sei que é um bom pressentimento que se instala cá dentro, boas memórias. amanhã seria um bom dia para nós, mas não te vejo há tanto tempo que os teus traços começaram a desaparecer, o orgulho com que falei ontem de ti começou a preencher-se com tristeza e não gosto disso. hoje senti a tua falta, jéde. não só hoje, na verdade.
ando demasiado calada. demasiado ocupada com coisas que não tenho. livre de cabeça e de coração. ando sem nada a dizer, e não gosto de estar assim. sou uma mulher de palavras, de gestos, de parvoíces. não estou a encontrar essa parte em mim.
outra vez na situação que me meti há uns meses atrás. aterrorizada por dentro e sem conseguir pensar como deve de ser. acho que nunca há maior medo na vida que este.
nunca nada me tinha cheirado tão a casa. juntavam-se em grupo, queimavam e queimavam-se, desfaziam e faziam. rodavam em processo metódico, ouvindo por vezes um pedido de alguém. fiquei com o cheiro impregnado no cabelo e não me conseguia desprender da sensação de estar novamente noutro sítio que não aquela sala. um sítio onde havia uma banheira verde e com um cheiro diferente que pairava em todas as divisões. não é aceite na sociedade, diziam-me na altura. e eu aprendi que aquilo, o que quer que fosse, passou a ser demasiado aceite nos dias de hoje, embora de forma secreta, por baixo da mesa para ninguém ver, fechados numa sala para ninguém descobrir, encontrado numa gaveta para rapidamente se inventarem desculpas.
entrei muda e saí calada. fazia-me confusão que tanta gente tivesse tão grande poder em mim. não sei quando passei a contentar-me com o mínimo, com conversas desinteressantes com pessoas que nunca valeram nem um minuto que lhes dei, com relações que nada mais me aqueceram sem ser os pés. já tinha dito que não tinha idade para isso ainda e parece que tenho de o repetir todos os dias. ganhei medos que não sei de onde surgiram ou se alguma vez me abandonaram. cometi erros atrás de erros, mas a verdade é que ambos temos os telhados de vidro partidos, e eu.. eu começo a ter frio. entrei muda de alma e saí calada de boca. continuo assim.
quando te conheci, tu estavas bem e eu estava sozinha
agora, estou eu bem sozinha.
é a mania de atirar o cabelo para o lado. a mania de sorrir quando sente que alguém está a olhar em demasia. mania de esfregar os olhos e olhar para o ecrã do telemóvel como se tivesse recebido alguma coisa e não tivesse dado conta. mania de estudar ouvindo música e revirar os olhos sempre que ouve ou vê alguma parvoíce. é de sorrisos, olhares, de vozes e de cheiros. tem a mania de achar que nem tudo é aquilo que se vê. de imaginar situações com quem nunca viu e de se arrepiar, sorrir e querer desesperadamente isso. tem, infelizmente, a mania de fechar os olhos antes de dormir e lhe desejar boa noite em pensamento. dorme bem, sonha comigo.
ela tornou-se fria e distante, sem sentir amor ou o que quer que se pareça. tem a necessidade de se proteger todos os dias. ele é um turbilhão de emoções, cheio de histórias de amor e finais tristes, não o esconde de ninguém. são apaixonados e no entanto desconhecidos que vivem vidas lado a lado. amo-te, diz-lhe apaixonado. está bem, responde-lhe gelada.
a amava b. b amava c. c não amava ninguém. e no entanto, apesar de tudo, era simples.
o frio chegou quando eu já não esperava por ele. os meus demónios decidiram fazer-me companhia e saíram do armário, talvez pelo frio que já sentem chegar ao mais profundo dos seus seres desprovidos de alma, de algo bom. deixei-os deitarem-se a par comigo, sabendo o que me esperava em mais uma noite que me habitariam os sonhos. o meu lado mais negro apareceu novamente, mas desta vez mais controlado, mais adulto e por isso mais assustador também. cuidado com o escuro, nos dias de hoje. podem perder-se meus amores. eu certamente me perdi, na escuridão duma dessas noites.
disseste-me exactamente o que precisava de ouvir. meio a gritar, meio a falar normalmente. fizeste-me admitir o que eu já sabia e não tinha coragem para pôr por palavras. fui a correr até casa, com a chuva a bater-me freneticamente na cara, sem parar um segundo. cheguei doente, cansada de corpo e alma, mas com uma noção mais clara das coisas. obrigada.
espaços vazios têm uma forma peculiar de fazê-la sentir-se insuficiente: a sua alegria não é suficiente para apagar as sombras nos cantos da sala, a sua imaginação não é suficiente para pintar as paredes. enquanto ela estende os seus pensamentos para alcançar os cantos tentando fazer com que fiquem menos ameaçadores, menos intensos, ela desaparece como uma gota de sangue numa banheira. pensamentos que geralmente desaparecem rapidamente assim como desaparece a dor quando se tira um penso-rápido que há muito está na nossa pele. ela sente-se pequena, mais pequena que o habitual. como se os seus ombros se encolhessem sobre si próprios para escapar do frio, como se os seus pensamentos que constituem metade dela, se escondessem debaixo do tapete para tentarem desaparecer. 
eu estou num espaço vazio tentando também que os meus pensamentos queiram desaparecer. e está frio aqui. muito frio.
não estás perdida. apenas te esqueceste que não importa o que estás à procura. a única coisa que importa é que aqui estás. aqui.. porque lá, onde quer que estivesses que guardou aquilo de que estavas a fugir, não foi suficiente ou então foi demais para ti. fez-te cair, ou aprisionou-te, portanto tiveste que partir.
não estás perdida. saíste magoada para fugir de algo cansativo. não pensaste na parte que estavas prestes a encontrar algo novo. mas tu encontraste algo novo. encontraste isto. encontraste o chão que pisas agora. portanto, não estás perdida. não estás enganada ou errada, nem fora do caminho certo ou sendo simplesmente imprevisível. tu estás aqui. com tudo ou nada em frente a ti.
é a poucos que consigo explicar plenamente o porquê de gostar tanto de tom waits, quando sinistro é a primeira palavra que lhes vem à cabeça. lembro-me da primeira vez que o ouvi, temptation, cantava ele. foste tu que mo deste a conhecer, afirmando que eu ia ouvir algo como nunca tinha ouvido. apaixonei-me no primeiro instante e agora fazem anos que o ouço. é sempre no inverno que ele chega, nunca percebi bem o porquê de não gostar de o ouvir no verão mas presumo que seja pela leveza que ele não possui. acho que é a voz.. aquela voz que tu me falavas mesmo antes de eu o ouvir e quase que imitavas. mas ninguém consegue ser como ele, ninguém. dizias-me repetidamente, agora ouve esta, e esta e mais esta!. é a voz quase psicótica mas que nos atrai para o fundo do poço. e nem nos importamos de ser atraídos para aí. acho que gosto dele porque me faz lembrar de ti. fazes-me querer tanto afastar de ti como aproximar-me, tal e qual como ele. eu repito.. é da voz. aquela que me faz crer ser uma má pessoa a sussurar-me ao ouvido mas da qual não me consigo desprender. é, eu gosto disso nele. assim como gosto em ti.
o termo acabar com alguém tem tanto de forte como a real palavra o permite ser. é exactamente isso, acabar contigo/acabares comigo. fico eu/ficas tu na merda, completamente acabados. e nunca na realidade se acaba o que é suposto: a relação.
tenho o quarto a cheirar a canela e coloquei de novo o gira discos perto de mim. continuo sem acabar o livro que tenho à mesa de cabeceira, as coisas para arrumar acumulam-se mudando apenas de sítio conforme onde eu queira estar até finalmente ser impossível sentir-me confortável com a falta de organização, encontro nos dias de hoje uma satisfação ao ouvir janis joplin que pensava só encontrar no verão. está frio lá fora e cá dentro não difere muito. não consigo prestar muita atenção às pessoas, sendo facilmente distraída. vejo filmes atrás de filmes, e sinto-me bem. sozinha e bem.

verdade. mesmo verdade.

"Just because we don't talk doesn't mean I don't think about you. I'm just trying to distance myself because I know I can't have you."
revi-me em cada palavra.
eu não gosto de histórias. ficam sempre mal contadas e raramente se acabam. os contos de fada são a pior categoria. não suporto contos de fada. nunca se conta o que acontece ao vilão. a princesa vive feliz para sempre com o príncipe e isso faz-nos subentender que a história deles continua feliz tal e qual como a conhecemos. mas e ao mau da fita o que calha? é desterrado para um lugar qualquer sem nome, desaparecendo do mapa, rende-se e é humilhado perante o feliz casal, aprende a lição. mas e depois? ninguém é vilão para sempre. é por isso que não gosto dos contos. nunca contam a perspectiva de quem comete o erro e aprende com ele. nunca dizem que vai acabar por viver feliz para sempre também, e que eventualmente acabará por se sentir melhor e não se irá culpar todos os dias até à exaustão pelo que fez de mal. às vezes era bom ter um pouco de esperança para os maus da fita. só para mudar a rotina um bocadinho. 
não gosto quando as pessoas mudam. nem quando eu mudo. exacto, não gosto principalmente da segunda parte. não sei no que me tornei e tenho medo disso.
gostava que um amor pudesse sumir com a mesma bela forma com que surge, sem dramas nem problemas, apenas caminhos diferentes. mas isso nunca acontece. as pessoas nunca partem de forma fácil, nunca sem deixar uma ferida aberta em nós. odeio quando partem, é sinal que nunca pertenceram, que no fundo nunca desejaram ficar. 
if a man wants you, nothing can keep him away. if he doesn't want you, nothing can make him stay.
é sempre café de viena que bebo nas noites mais frias e parece que foi finalmente hoje que chegou a chuva. faz frio lá fora, os ossos estão a doer, enrolo-me em mantas e vejo séries enquanto devia estar a estudar. toca bon iver no quarto e nada me parece mais adequado para hoje. como os franceses o sabem, bon hiver. bom inverno.