passados dois anos, continuo a sentar-me e a escrever sobre esse dia como se tivesse sido ontem. continuo a fazer o minuto de silêncio e a chorar calmamente.. só duas ou três lágrimas. 
mudou tanta coisa. o vestido verde que eu levei tem a helena, os óculos roxos ficaram com o joão e acabei por perder o hábito de fazer tranças. despejei-me de tudo desse dia e agora só me restou a memória. sei contar promenorizadamente maior parte das coisas e passado este tempo todo ainda ninguém soube o que foi aquilo ali dentro. a morte visita-nos. não quando estamos à beira de morrer, mas antes, muito antes. visita-nos quando sabemos que não escapamos. não vem vestida de preto, não tem uma foice, nem diz wazzup. tudo se resume às coisas mais básicas da nossa existência, a apenas um minuto de toda a nossa vida. 
passados dois anos, continuo a agradecer por estar aqui, sentada, a escrever sobre 31 de maio de 2009. mudei muito em mim, aprendi ainda mais, ultrapassei fobias mas ganhei outras tantas. no entanto, continuo a fazer o minuto de silêncio e a chorar calmamente.. só duas ou três lágrimas. talvez quatro.
na verdade, eu não consigo esquecer aquele momento. eu, ao teu lado no sofá, o sol que já tinha nascido, a tua cantilena de embalar que consistia em 'és linda, és linda, és linda' até tu próprio adormeceres, o meu cabelo desordenado, o cheiro a perfume, a maneira como me descalçaste como uma princesa, e eu sou uma princesa, a tua princesa se tu tivesses querido esquecer aquela tua ex-namorada de quem falaste metade da madrugada. metade é muito, sabes? metade é muito..
houve um tempo em que o meu dia não passava sem ser preenchido quer por bon iver, quer por patrick watson quer por the cinematic orchestra. era um tempo em que eu não sabia bem o que queria para o meu futuro mas em que eu era muito mais eu própria. tomei as decisões mais importantes que podia ter tomado esta semana, liguei ao meu melhor amigo e chorei imenso. é sempre assustador, não é? mudar de vida. e mesmo assim não sei até quantas vezes isso não se torna essencial.
sentámo-nos numa mesa no meio da zona da restauração e rimos das desgraças que nos apareciam diariamente. eu tinha lágrimas a rolarem-me pela cara por toda a amargura retida. tu tinhas o teu sorriso com o ar perplexo de quem ouviu a maior barbaridade do mundo. rimos das desgraças e afastámos as más energias. que todas as tardes fossem assim e eu era feliz.
antes de te conhecer subestimava o amor. é sempre assim não é? morremos de amores por alguém quando o nosso coração ferve com a sua perda. não te dava valor. é certo que o meu coração era louco por ti mas eu nunca exprimi a tensão que sentia quando me tocavas. nunca fui suficiente mulher para te dizer que fazia tudo por ti. perdi-te na pior fase da minha vida e hoje sinto que essa fase nunca terá fim. ainda hoje a vivo sem te ter ao meu lado para me ofereceres a típica palavrinha que toda a gente acha inútil. mas por incrível que pareça, é só disso que preciso. do teu apoio, do teu estou aqui, de um abraço.
pensava ela que o amor era mecânico e que o seu príncipe encantado vivia na rua perpendicular à sua. dizia-se sonhadora. não sabia ver, tudo o que os seus olhos fotografavam eram meras observações e complexas recordações. era simples; e de simplicidade pouco sabia. escrevia. lia mentes. era apaixonada, vivia com um amor platónico entalado na garganta e perfurado no coração. sempre a perguntar como os outros estavam. sobrevivente. e profundamente enganada.
está só a apetecer-me ouvir The Police, beber um batido de morango, combinar as minhas férias de verão, ler o horóscopo e ver o que reserva para Caranguejo, ver um filme e na melhor das hipóteses sair.
mas vou concentrar-me no inevitável, e esse diz-me que amanhã é quinta-feira.
temos muito mais medo de perder uma pessoa quando ela já não faz parte da nossa vida. quando caímos em nós percebemos então que já está perdida, e só depois de meses a refletir nisso pensamos como é que eu fui capaz?
nunca ninguém poderá afirmar o momento em que adormeceu, e quem a essa pergunta tiver resposta, é um mentiroso cego
a culpa é uma palavra demasiado pequena para o peso que carrega sobre si. hoje sou eu que a carrego. sabes, a vida dá muitas voltas e as pessoas surpreendem-nos. a culpa é nossa se a ilusão fizer parte do momento. por isso é que a injustiça existe. no fundo, somos nós que erramos, deixamo-nos levar. magoamo-nos por sermos fracos demais. por gostarmos tanto de uma pessoa que é capaz de fazer com que nos esqueçamos de nós próprios. isso é injusto e eu sinto pudor. ódio. mas eu sei que isto me vai passar, afinal as palavras servem para isso mesmo: para dizer o que não queremos que ninguém ouça da nossa boca. e mais uma vez estou a pensar nos outros, não quero magoar ninguém. acabo por me magoar a mim mesma. e a culpa .. a culpa é demasiado grande para a poder carregar sozinha.
escrevo mas não sinto
estou cansada. tão cansada. são nestes dias que eu queria desistir de amar. de ser amada. de pedir amor. de amar sem fronteiras. escolhas erradas. são só escolhas erradas.
'é egoísmo não conseguir pôr termo a uma coisa má, por não termos mais nada no seu lugar? é justo sustentar um conjunto de momentos maus porque não temos outros em seu lugar? qual é o mal de ter os braços vazios, em vez de cheios de nada?' disseram-me. continuo a pensar nisto desde aquela tarde em que tudo pareceu estar errado e não me sai do pensamento. porquê? porquê, porquê, porquê? é a única pergunta que se continua a repetir na minha boca quando adormeço.
tenho saudades tuas. é um facto. e hoje precisava muito de ter tido uma longa conversa contigo, mas não posso. desde o início até agora que continuo de mãos e pés atados a correr numa corda de equilibrista. as pernas bambas e o coração em sobressalto. meu deus, tenho tantas saudades tuas e não to posso dizer porque não deixam. r