quanto mais vais sabendo mais curtos ficam os dias. estamos parados e a água vai subindo. primeiro pelos calcanhares. depois pelos joelhos, pela cintura e quando damos por nós estamos com ela por aqui. e começas a ter medo. medo do escuro.
ela continuava a sonhar com ele nas noites mais frias e a agarrar-se aos joelhos para doer menos. continuava tão magoada que já não sabia a partir de que ponto eram lágrimas de tristeza ou de raiva. acontecia-lhe muitas vezes. até que chegou uma noite em que não sentiu necessidade de pedir a tudo de divino no qual não acreditava que a ajudasse a parar com a dor. não que tenha desaparecido, ainda está lá todos os dias para lhe lembrar como foi, mas deixou de chorar. agora só se agarra aos joelhos para não sentir o coração a doer mais novamente.
naquela noite ficámos parados durante o máximo de tempo possível em frente à montra da loja de movéis para casas. admirávamos os cenários que criaram e imaginávamos que aquela seria a nossa casa. tinhamos uma sala espaçosa com um plasma, um quarto como sempre desejei e direito a outra cama, tudo tamanho de gigantes. o cenário montado da casa imaginária fazia sentir-me pequenina, mas um pequenina da mesma forma como me sentia nos teus braços, daquele segura e confortável. viamos o nosso reflexo no vidro da montra, abraçados e a imaginar o nosso futuro por tempo suficiente para sabermos que éramos felizes. não nos engánamos, nós éramos felizes. tínhamos pausas com direito a intervalos extras de tanta felicidade. o que sobrou é que não foi muito.