
o sol nasce lentamente com rosas e amarelos à mistura, um espectáculo a que ela gosta de assistir por saber que poucos o fazem. tem o coração longe do sítio onde o pousou pela última vez, entre aqueles pulmões que não lhe pertenciam mas que respiravam o seu mesmo ar e inspiravam e expiravam exactamente ao mesmo tempo que os seus, sem se atrasarem ou adiantarem sequer um segundo. agora o seu pequeno está longe, a bater descompassadamente sem pessoa que o guie, sem melodia que o acalme. deve-se encontrar tão amedrontado quando ela própria está.
boneca de porcelana que sonha todas as noites que alguém encontra o seu bem mais precioso e cuida bem dele como se de um órfão se tratasse. quem sabe tempos mais tarde as buscas dêem frutos e ela se reencontre com ele, sarado, cicatrizado, muito mais sábio e destemido e no fundo, em todas as suas células, válvulas e aurículas, em paz e feliz.