eu não corro atrás. quem quiser está, quem não quiser vai. eu não ando atrás. deixei-me disso quando percebi que não vale de nada. e mais importante: eu não rastejo atrás. não, nunca. foi, aliás, por nunca estar atrás de nada nem ninguém que caí das escadas abaixo. a mania de querer ir sempre à frente, de ser tão independente que o provável é nem de luz precisar quando não se vê nada a mais de um palmo à frente. sobrevivi apenas com três nódoas negras nas pernas e uma dor aguda nas costas. cheguei ao chão a rir, exactamente como da primeira vez que isto aconteceu. se eu corresse, andasse ou rastejasse atrás talvez a queda tivesse sido amparada não é? mas todos sabemos que não possuo direito algum de arrastar alguém para a minha bola de neve. é por isso que me objecto a todas essas coisas, e continuo a andar à frente de todos, na total escuridão à espera de não por nenhum pé mal e cair estatelada pelas escadas abaixo. se isso acontecer, espero só sair ilesa, no máximo com umas nódoas negras e uma dor no coração, neste caso.
às vezes penso que já não consiga comunicar contigo como em tempos comuniquei. a parte de mim que te pertencia desaparece, esconde-se de nós e dificilmente é encontrada a seguir. por vezes vem-nos espreitar, no meio duma discussão, como que para gozar connosco mas rara vez fica. eu gosto dela. gosto muito dela, na verdade, mas não sou eu. eu sou impulsiva, imprevisível, tenho todas as palavras a quererem sair ao mesmo tempo quando estou irritada e mantenho-me calada quando nada sinto cá dentro. e é isso que se passa ultimamente. eu gostava tanto de te explicar, mas só consigo escrever onde não terei que ler uma resposta porque o meu raciocínio nunca é permitido ser levado até ao fim doutra maneira. não sinto cá nada dentro porque despejei-me de tudo o que algum dia fui. não gostava de mim, assim como tu também não e agora estou calmamente a desfazer-me para construir algo melhor. se tivéssemos que escolher, eu era uma tempestade tropical e tu um lago de águas paradas e talvez seja por isso que nunca soubeste como lidar comigo. não consigo fazer sentido e quero muito comunicar como em tempos o fiz. mas ouve-me com atenção: eu não sou ela. aquela parte de mim vem e vai como as estações e embora eu queira muito que ela fique, eu não sou ela e nunca serei. ouve-me e fixa: sou inconstante e são todas essas fases que me tornaram hoje a pessoa que sou. pegar ou largar. e agora, com mais atenção: sim, continuo a ter saudades tuas, mesmo quando estás por perto. sou patícia, por enquanto e não quero isso.
uma vez alguém disse que a morte não é a maior perda nas nossas vidas. a maior perda é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.
haley, one tree hill
se tivesse de escolher diria que eras a effy sem duvidar. nunca me esqueço da forma com que disseste isto e eu, que nunca tinha percebido sequer alguma semelhança com ela, encontrei-a. filofobia, disseste-me e só há pouco tempo é que me apercebi do que me querias fazer ver. tarde demais, não é? vou sempre tarde demais.
enquanto estive contigo tornei-me noutra pessoa, noutra versão de mim. se melhor se pior não sei, mas certamente mais apagada. não consigo ser assim por muito tempo, eu preciso das minhas coisas, do meu tempo e espaço, da minha energia, da minha felicidade. contigo tinha outra coisa.. tinha amor. não o encontro mais nos dias de hoje, apesar de encontrar as minhas coisas, o meu tempo, o meu espaço, a minha energia e muitas vezes a minha felicidade. eu escolhi-me a mim invés de nos escolher a nós, e não me consigo arrepender, disse-lhe. não me entendeu, como sempre, e eu desisti de tentar.
poucos sabem o porquê do nome deste espaço e muitos me perguntam. gosto de elefantes, sempre gostei. são uns dos animais que melhor memória têm e isso faz-me querer guardar pelo máximo de tempo na memória o que vou vivendo. encontrei essa magia através dos muitos cadernos espalhados pelo meu quarto, da fotografia, dos bilhetes deixados ao acaso com listas para quando eu fosse grande. e todas essas partes de mim têm memórias de elefante. são doze, porque doze foi o número que me partiu o coração, contando com todas as memórias que lhe tenho associadas. e a verdade é que um elefante pode morrer de um coração partido, li algures sobre isso. sou feita de memórias e corações partidos e nunca baixei a cabeça. sou um elefante, no sentido mais metafórico da palavra.
diziam-me sempre isto, como se de remédio se tratasse. andei com as minhas listas sobre o certo e errado a fazer, andei com as minhas ideias como se de remédios se tratassem e dei durante toda a minha vida conselhos. entrei em jogos que nunca quis, enganei pessoas que nunca o mereceram, e iludi sempre que pude. o menos feliz de estar solteira é aperceber-me que de todos os que passaram na minha vida, não houve nunca nenhum que quisesse o suficiente continuar cá ao meu lado. ou então não houve nunca nenhum que eu quis o suficiente que continuasse cá, ao meu lado. diziam-me sempre para me manter longe das pessoas estilhaçadas. afinal parece-me que me tenho de manter longe de mim mesma.
o que não tem remédio, remediado está.
calas-te, pensando que o assunto que te atormenta há já dias e dias se vai embora assim, mas consigo ouvi-lo respirar por trás do teu silêncio. escondes-te de ti própria, colhendo problemas que não são teus, tentando escapulires-te dos teus próprios demónios que não consegues combater à noite quando saem. afastas-te das pessoas para não teres de ouvir as perguntas para as quais não queres ter resposta. e vives assim, enganando com fogos de vista e com frases retiradas de filmes, com um sorriso nos lábios e evitando os assuntos mais problemáticos. vives como se eu não te tivesse entendido há muito tempo atrás, como se eu não soubesse como custa. vives calada, à espera que o que te atormenta há dias se decida a ir embora.
encontrei um bilhete dobrado no bolso de umas calças de ganga antigas, que há muito me deixaram de servir, escrito numa qualquer aula aborrecida e que só lá permaneceu tanto tempo devido à falta de oportunidades para to passar. podia-se ler não estavas lá quando precisei. é essa a minha cena. ainda agora não estás. e eu pensei, que mesmo passado um ano de ter escrito isto, continuas a não estar. o que te mostrei não valeu de nada, e o que te podia dizer também de nada valeria, acredito. ainda bem que não te mandei o bilhete, de qualquer das maneiras.
não sei sinceramente o que esperam de nós. todos nos dizem, não desistas, acredita, mesmo que te tenhas magoado, mesmo que tenhas cometido erros, tenta novamente. é sempre o lema, tenta outra vez, não podes simplesmente desistir do amor. chegam a incluir a célebre parte de não quer dizer que por teres sido magoada, eu te vá magoar, que eu seja como o último. acabamos por meter na cabeça que temos de tentar, que não queremos ser para sempre pessoas com corações de pedra e damos a oportunidade, o salto de fé, colocamos a venda nos olhos e subimos à corda de equilibristas sem rede por baixo. acreditamos sempre que se calhar já passou demasiado tempo desde a última vez que nos desiludimos, que não escolhemos foi a pessoa certa, que temos realmente de tentar. mas e quando falhamos novamente? mas e quando falham para connosco novamente?
amanhã seria um bom dia para nós. para eu ir ter contigo e te falar das novas nódoas negras que adquiri, das novas coisas que me ensinaram, dos erros que cometi. foi contigo que vi o número 11 ganhar formas no meu dia-a-dia e desde que entraste na minha vida, o número nunca mais saiu. brincava com isso, sinistro, dizia. mas hoje sei que é um bom pressentimento que se instala cá dentro, boas memórias. amanhã seria um bom dia para nós, mas não te vejo há tanto tempo que os teus traços começaram a desaparecer, o orgulho com que falei ontem de ti começou a preencher-se com tristeza e não gosto disso. hoje senti a tua falta, jéde. não só hoje, na verdade.
ando demasiado calada. demasiado ocupada com coisas que não tenho. livre de cabeça e de coração. ando sem nada a dizer, e não gosto de estar assim. sou uma mulher de palavras, de gestos, de parvoíces. não estou a encontrar essa parte em mim.
outra vez na situação que me meti há uns meses atrás. aterrorizada por dentro e sem conseguir pensar como deve de ser. acho que nunca há maior medo na vida que este.
nunca nada me tinha cheirado tão a casa. juntavam-se em grupo, queimavam e queimavam-se, desfaziam e faziam. rodavam em processo metódico, ouvindo por vezes um pedido de alguém. fiquei com o cheiro impregnado no cabelo e não me conseguia desprender da sensação de estar novamente noutro sítio que não aquela sala. um sítio onde havia uma banheira verde e com um cheiro diferente que pairava em todas as divisões. não é aceite na sociedade, diziam-me na altura. e eu aprendi que aquilo, o que quer que fosse, passou a ser demasiado aceite nos dias de hoje, embora de forma secreta, por baixo da mesa para ninguém ver, fechados numa sala para ninguém descobrir, encontrado numa gaveta para rapidamente se inventarem desculpas.
entrei muda e saí calada. fazia-me confusão que tanta gente tivesse tão grande poder em mim. não sei quando passei a contentar-me com o mínimo, com conversas desinteressantes com pessoas que nunca valeram nem um minuto que lhes dei, com relações que nada mais me aqueceram sem ser os pés. já tinha dito que não tinha idade para isso ainda e parece que tenho de o repetir todos os dias. ganhei medos que não sei de onde surgiram ou se alguma vez me abandonaram. cometi erros atrás de erros, mas a verdade é que ambos temos os telhados de vidro partidos, e eu.. eu começo a ter frio. entrei muda de alma e saí calada de boca. continuo assim.
quando te conheci, tu estavas bem e eu estava sozinha
agora, estou eu bem sozinha.
é a mania de atirar o cabelo para o lado. a mania de sorrir quando sente que alguém está a olhar em demasia. mania de esfregar os olhos e olhar para o ecrã do telemóvel como se tivesse recebido alguma coisa e não tivesse dado conta. mania de estudar ouvindo música e revirar os olhos sempre que ouve ou vê alguma parvoíce. é de sorrisos, olhares, de vozes e de cheiros. tem a mania de achar que nem tudo é aquilo que se vê. de imaginar situações com quem nunca viu e de se arrepiar, sorrir e querer desesperadamente isso. tem, infelizmente, a mania de fechar os olhos antes de dormir e lhe desejar boa noite em pensamento. dorme bem, sonha comigo.
ela tornou-se fria e distante, sem sentir amor ou o que quer que se pareça. tem a necessidade de se proteger todos os dias. ele é um turbilhão de emoções, cheio de histórias de amor e finais tristes, não o esconde de ninguém. são apaixonados e no entanto desconhecidos que vivem vidas lado a lado. amo-te, diz-lhe apaixonado. está bem, responde-lhe gelada.
a amava b. b amava c. c não amava ninguém. e no entanto, apesar de tudo, era simples.
o frio chegou quando eu já não esperava por ele. os meus demónios decidiram fazer-me companhia e saíram do armário, talvez pelo frio que já sentem chegar ao mais profundo dos seus seres desprovidos de alma, de algo bom. deixei-os deitarem-se a par comigo, sabendo o que me esperava em mais uma noite que me habitariam os sonhos. o meu lado mais negro apareceu novamente, mas desta vez mais controlado, mais adulto e por isso mais assustador também. cuidado com o escuro, nos dias de hoje. podem perder-se meus amores. eu certamente me perdi, na escuridão duma dessas noites.
disseste-me exactamente o que precisava de ouvir. meio a gritar, meio a falar normalmente. fizeste-me admitir o que eu já sabia e não tinha coragem para pôr por palavras. fui a correr até casa, com a chuva a bater-me freneticamente na cara, sem parar um segundo. cheguei doente, cansada de corpo e alma, mas com uma noção mais clara das coisas. obrigada.