às vezes penso que já não consiga comunicar contigo como em tempos comuniquei. a parte de mim que te pertencia desaparece, esconde-se de nós e dificilmente é encontrada a seguir. por vezes vem-nos espreitar, no meio duma discussão, como que para gozar connosco mas rara vez fica. eu gosto dela. gosto muito dela, na verdade, mas não sou eu. eu sou impulsiva, imprevisível, tenho todas as palavras a quererem sair ao mesmo tempo quando estou irritada e mantenho-me calada quando nada sinto cá dentro. e é isso que se passa ultimamente. eu gostava tanto de te explicar, mas só consigo escrever onde não terei que ler uma resposta porque o meu raciocínio nunca é permitido ser levado até ao fim doutra maneira. não sinto cá nada dentro porque despejei-me de tudo o que algum dia fui. não gostava de mim, assim como tu também não e agora estou calmamente a desfazer-me para construir algo melhor. se tivéssemos que escolher, eu era uma tempestade tropical e tu um lago de águas paradas e talvez seja por isso que nunca soubeste como lidar comigo. não consigo fazer sentido e quero muito comunicar como em tempos o fiz. mas ouve-me com atenção: eu não sou ela. aquela parte de mim vem e vai como as estações e embora eu queira muito que ela fique, eu não sou ela e nunca serei. ouve-me e fixa: sou inconstante e são todas essas fases que me tornaram hoje a pessoa que sou. pegar ou largar. e agora, com mais atenção: sim, continuo a ter saudades tuas, mesmo quando estás por perto. sou patícia, por enquanto e não quero isso.