
(escrito em 2009)
mais uma vez recomeço a escrever… para ti, como sempre. e mais uma vez, não sei o que te dizer. no fundo, acho que já não há nada para dizer. as palavras gastaram-se, o vocabulário parece-me agora sempre inadequado, tudo não passa de meras frases escritas a tinta preta num dos muitos moleskines que tenho por aí espalhados. acho até que tu já não passas de coisas escritas em folhas perdidas. e, embora parecendo que não, isso assusta-me profundamente.
há dias em que eu já não acredito no amor. hoje, é um desses dias. estou sentada no velho sofá de infância e só agora reparei como o padrão é bonito. e isto, é exactamente como o amor. vivemos sempre com ele, nas mais pequenas coisas às maiores, mas só em determinada altura é que realmente o sentimos, vemos, sabemos da sua existência. eu já o vi, e eu sei que parece infantilidade, mas eu sei que já o vi. em pequenas coisas, mas mesmo assim não deixa de o ser. a noite está quente, tal e qual uma noite de verão, e nesta casa apenas há os barulhos da rua e do prédio. há dias em que eu já não acredito no amor, e continuo a deslumbrar-me com estas pequenas coisas. é engraçado, não é?
não acredito em coisas grandes. além de não serem pormenorizadas e sim, generalizadas, são extremamente banais. as pequenas, não. há detalhes, coisas palpáveis, conforto. acho que é por isso que não acredito no amor. é demasiado banal, tal e qual como a palavra.
estou muito cansada, e penso agora se será esta a melhor altura para te escrever. mas no fundo, nunca é a melhor altura. nunca é a melhor altura para me lembrar de ti, sabendo que não fazes o mesmo. nunca é a melhor altura para estar apaixonada por ti, sabendo que a ti não te acontece o mesmo, nunca é a melhor altura para te amar, sabendo que não sentes o mesmo. e nunca é a melhor altura para pensar nisto, porque chego sempre à conclusão que apesar de já te ter esquecido, sobra sempre um pedaço de ti pelo qual me apaixono. e é sempre esse pedaço que me cansa.
tenho saudades de todos os amores e paixonetas de menina que já tive. era tudo tão estupidamente, mas ao mesmo tempo adorável, inocente. não sei para onde foi agora a inocência que não me fazia ver os problemas mas adorava encontrá-la e tê-la de novo. era tudo tão fácil, corria como um rio. sem pressa, nem pressões, pura e simplesmente natural. onde é que hoje há amores naturais? daqueles dos filmes, em que se conhecem do nada, devido a um encontrão, a um erro qualquer, a uma figura parva e se apaixonam logo ali? onde é que hoje há romantismo? onde é que há esplanadas com cafés e croissants de chocolate entre conversas de amor? não há. e isso é horrível. todos sonham com esse amor, e no final nunca há.
tens razão quando dizes que espero demasiado do amor, que sou uma romântica incurável e incrivelmente ingénua. acho que nunca o deixarei de ser, por mais que queira ver a realidade. talvez prefira assim, apesar de me magoar sempre. já devo estar habituada.
reparei agora que anoiteceu incrivelmente depressa, a única luz agora proveniente é dos candeeiros da rua que dão aquelas luzes laranjas acolhedoras e um candeeiro de mesa que por aqui anda neste quarto. estou aconchegada, por dentro, digo. sinto-me bem, completamente bem. quer dizer, quem sou eu para te mentir? já me conheces, que eu sei. e sabendo isto, tenho plena consciência que sabes que não estou completamente bem. no máximo estou quase bem. quem sou eu para te enganar? aliás, como se eu conseguisse. então, é verdade. estou quase no ‘quase bem’. é como se fosse um mais ou menos. mas eu prometo-te que um dia.. um dia, hei-de ficar completamente bem e curada. até lá, entretenho-me com os meus romances lidos e relidos com capas ainda incrivelmente direitas e com os filmes que me fazem chorar que nem uma louca. até esse dia chegar, entretenho-me a pensar que era tudo muito mais fácil se houvesse uma banda sonora da nossa vida e que isto é só mais um devaneio adolescente como tantos outros que já tive.
não te preocupes meu amor, quando chegar o dia, tu saberás. prometo.