welcome to the age of un-innocence. no one has breakfast at tiffany's, and no one has affairs to remember. instead, we have breakfast at seven a.m., and affairs we try to forget as quickly as possible.
carrie bradshaw
"andar de mãos dadas à beira da água. se fosse contigo, nem eu me importaria com tamanho cliché."
encho a casa de pessoas para não pensar em quem lá falta. coloco música alta, abro o frigorífico e faço uma tentativa de refeição para quem se arrisca a lá ficar. os risos dos outros ultrapassam todas as paredes e enchem todas as divisões, como se não tivesse que haver espaço para mais nada, evitando assim a intrusão de pensamentos que nunca foram bem-vindos a nenhum de nós. às tantas perco a noção da quantidade de gente diferente que já me passou pela vista e que já se sentou no meu sofá, mas é assim que gosto de ver a minha casa. que todos os dias fossem passados assim, rodeados de bons amigos, boa música e felicidade, e eu não quereria que eles corressem tão rápido como quero agora.  
I was born bad. 
But then I met you. 
You made me nice for a while. 
But my dark side's true.

lana del rey
"não sei se há pessoas que nascem umas para as outras, mas tenho a certeza que há pessoas que crescem e se acertam umas para as outras. e esse mistério alquímico é uma dádiva extraordinária."
falo de amor quando dele não sei nada, quando digo que nele não acredito. e enquanto perco tempo com coisas que não sei nem quero saber a vida foge-me. corre lentamente à minha frente mas nunca a apanho, como se ela se escondesse em esquinas só para ela existentes e que me passam despercebidas. se calhar devia falar-lhe a ela, convidá-la a entrar pela porta da frente e deixar-me de vez de assuntos que não são para mim nem nada têm a ver com ela, com a minha vida.
ele tinha os olhos cor de mel. andava lentamente, sem pressas para nada, como que se possuísse todo o tempo do mundo ao seu dispor. tinha sempre no bolso um isqueiro bic branco, com os nomes gravados das lendas musicais que morreram aos 27 anos, todas elas esquerdinas, e todas elas com um isqueiro bic branco no bolso. eu conseguia passar tardes inteiras a tentar raspar a tinta dos nomes. jim morrison, jimi hendrex, janis joplin e um kurt cobain, cada vez mais sumido, sobressaíam no branco luzidio do isqueiro com sinais de ser bem tratado. dizia-lhe sempre que aquilo ainda lhe traria má sorte, como era crença no meio popular, mas ele ria-se a alto e bom som. má sorte? mas tu ainda acreditas que tal coisa seja possível? e eu encolhia os ombros por saber que a ele nada valia a pena ser dito. já não sei nada dele há muito tempo mas vamos só esperar que não lhe tenha dado para músico.
sentavas-te na beira da cama e olhavas para mim. eras capaz de me atravessar a alma com os olhos e usavas isso a teu favor. olhavas para mim como quem pedia alguma coisa e depois sorrias, aquele sorriso. não gostares de mim, nem nunca o teres feito, não é de todo algo que me incomode. aliás, incomoda-me muito mais o facto de nem me importar com isso, nem querer saber. devíamos querer sempre que as pessoas gostassem de nós não é? já nem falo em amor mas gostar, genuinamente. simplesmente eu já não quero saber. tenho pena de ter ficado assim, tenho realmente pena.
solidão é uma palavra obscena. crua, fria e sem nada para nos oferecer. mesmo assim parece que esse cheiro repugnante, que se faz deixar passar, atrai-me de um modo que não sei replicar em palavras. eu quero estar sozinha, mas não quero estar sozinha. demasiado complicada. são nestes momentos que gostava de ser normal, como todos os anormais que se julgam felizes mas não são.
esperei por ti em todos os lugares errados
- a quem pedir agora explicações?

viver diziam-me era assim e não havia
mistério nenhum nisso apenas
um roteiro obscuro estabelecido
entre o que tem de acontecer e aquilo 
que não acontece nunca
alice vieira