
o sol já tinha nascido, mas se se tivesse que adivinhar haveriam dúvidas: era uma daquelas típicas manhãs de inverno, em que há uma certa claridade depois da penumbra da noite mas não se viu nascer de sol algum. ela chegara a casa, abrira a porta com cuidado, pegara na gata para esta não ir explorar o terraço e pedira silêncio a quem vinha atrás de si. sentara-se pesadamente no sofá, com o cansaço todo acumulado das horas que passara em pé a dançar, e tivera, ainda levemente tocada pelo álcool, uma das conversas mais interessantes num espaço de meses exatamente ali, naquele sofá, embrulhados os dois numa manta. há coisas que ela não compreende: como pode uma pessoa tão recente na nossa vida conhecer-nos melhor do que qualquer outra? ele também não compreendia.