está a tocar fever ray, patrick watson, the cinematic orchestra, cocorosie em replay pelas divisões da minha casa e só isso já diz tanto. recuo três anos atrás e parece que tudo parece intacto. mesmo quando não está. tudo toca e aqui é harmonia, é felicidade, é paz, é calma. 
acabou da mesma forma que começou: do nada e sem eu me importar com isso. as coisas más trazem sempre coisas boas e tu, mais que qualquer relação que eu tenha tido, ensinaste-me neste último ano muito mais sobre mim do que eu aprendera noutros tipos de relações, noutros tempos. obrigada, obrigada, obrigada.
prometeram-me a felicidade naquela tarde em que saí de casa mais uma vez e para fazer as mesmas coisas de sempre. pareceu-me uma profecia barata mas decidi acreditar, e aos poucos fui idealizando uma vida que até hoje não me aconteceu
o verdadeiro problema dos mais carinhosos é que nunca pedem licença para nos foder. diz isto, apaga o cigarro, apanha o cabelo, volta a vestir o casaco de ganga - não porque esteja frio mas porque gosta de se ver com ele. beija-o nos lábios e sai. a noite ainda é uma criança.
voltaste. sem eu estar à espera, já estava novamente a ser levada para o nosso sítio do costume e a ter-te outra vez. voltaste. mas diferente. e eu deixei-me voltar diferente também. o teor da relação continua exatamente igual, mas nós não.. contraditório. a questão é: voltaste. e voltas sempre.
“E assim, aos poucos, ela esqueceu-se dos socos, pontapés e golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era alcoólica, mas também tem olhos de ressaca - levanta-se e segue em frente. Não por ser forte, mas sim pelo contrário: por saber que é fraca o suficiente para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que ainda vai chorar muitas vezes. Afinal, foi chorando que ela, tu e todos os outros, vieram ao mundo.”
Tu dizias que não gostavas de escrever quando estava frio e eu segui-te os passos. O meu cérebro fica demasiado parado e as mãos, demasiado congeladas, não se movem com a leveza com que eu gosto de escrever. Por isso é que abandonei isto nos dias em que, de tão frio que estava, não me sentia nem sentia coisa alguma. A primavera chegou mas está a desaparecer novamente entre nuvens e dias cinzentos, embora há uma semana atrás tenha trazido consigo as noites de verão que não chegaram cá em 2012. Foi numa dessas noites que, do terraço, vi as luzes dum avião contra o céu limpo cor de tinto e desejei estar dentro dele. Não importando mais nada, só queria sair daqui, perder-me noutra cidade para parar de me perder em ti. Só queria ir para longe, para um sítio com calor onde as mãos ficassem prontas a escrever e onde tivesse a cabeça e o coração leves, leves, leves que nem uma pena.
não acreditei em nada do que estávamos ali a fazer. não havia ponta de verdade. ligaste-me na noite seguinte a horas impróprias e um carro buzinou passado um minuto. eras tu, eu sabia que eras tu. foi por isso que não hesitei um segundo em fechar todas as portadas, desligar o telemóvel e cair num sono profundo novamente. a paciência estava-se a perder.
dói-me a cabeça, numa dor que não passa. tenho diferentes pilhas de roupa ao longo da casa, a cozinha espera avidamente por ser arrumada de vez e um monte de trabalhos que se vão acumulando em cima do prazo. o volume de tudo está alto demais, sempre alto demais e começou a trovejar lá fora. eu lembro-me de gostar destas tempestades, onde me entretinha entre mantas e canecas de chocolate quente.
fecho os olhos e é fácil lembrar-me de como ele guiava rápido demais. tinha sempre valete a tocar e um cheiro a erva já entranhado nos estofos. descobri hoje que as pessoas não são o que parecem ser e isso desiludiu-me mais do que eu achei possível. senti-me ridícula durante imenso tempo por sentir que ele achava-me a gostar dele e que tinha de deixar de o fazer. senti-me assim porque nunca gostei, nem nunca pensei em gostar, e queria que ele ganhasse consciência disso. sim, eu fui ridícula e agora sei que estava certa em sentir-me assim... mas pelas razões erradas. fui ridícula porque confiei, porque achei que ainda existem amizades e pessoas decentes. é... eu fecho os olhos e parece que é assim que ando a toda a hora: ceguinha, sem ver ponta dum corno de verdade alguma. otária.
houve um dia em que achei que até podia escrever um livro. hoje sei que não. isto porque as palavras se foram gastando, fui-me tornando cada vez mais chata e mais óbvia, e agora resumo-me a esperas de mensagens que nunca chegam e a relacionamentos que nunca começam.
cabeça leve do sono posto em dia e guias de viagens espalhados pela mesa de cabeceira. sei finalmente o que quero e essa é das melhores sensações que alguma vez podia ter pedido. os contactos de hostels acumulam-se e os orçamentos a preencher folhas e folhas continuam a aparecer. estou calma e sinto-me bem. tenho a cabeça leve, o sorriso leve, o coração leve e vivo com a leveza que toda a gente devia viver.