há coisas que vão mudando lentamente e depois há coisas que mudam de um dia para o outro. nunca soube de quais mudanças gostava mais, não sabia sequer se tinha uma preferida, se gostava de ambas de igual forma ou se nem sequer gostava de alguma, para ser sincera. no entanto, por menos que conhecesse essa resposta, as mudanças foram acontecendo no meu dia-a-dia. fomos mudando lentamente até deixarmos de existir da noite para o dia. mais tarde eu digo-te se afinal sempre gosto de mudanças, prometo.
gostava de puder voltar a acender o incenso e a acordar todos os dias ao teu lado, com o sol a bater-me na cara, devagarinho, e com o teu braço debaixo do meu pescoço. o tempo escapa-nos das mãos. não devia ser assim, pois não?
deixei de ficar dias inteiros a ler páginas atrás de páginas, só fazendo uma pausa dum minuto quando a fome era tanta que já não distinguia as letras impressas. deixei de escrever, gastando caneta atrás de caneta e encontrar o meu último moleskine está a tornar-se numa missão cada vez mais complicada. já não bebo café de viena para me aquecer, nem como pastéis de feijão há mais tempo do que era possível lembrar-me. bon iver, cocorosie, the xx, tom waits, the cinematic orchestra, chico buarque e fever ray são artistas que já não passam no meu leitor de música há muito, muito, muito tempo. eu mudei, mudei lentamente. foram dois anos e meio de coisas que me aconteceram, de pessoas que entraram e de tantas outras que saíram. agarrei algumas, poucas, muito poucas, e o resto foi desaparecendo à medida que os minutos contavam. mudei, deixei muita coisa. demasiada coisa, segundo o que dizem.
disse que te odiava por não teres voltado mais cedo e é verdade. eu odeio-te. odeio-te. odeio-te. odeio-te.
gosto! foi o que disseste. foi gostar o verbo que empregaste. e eu não tive a coragem de fugir de ti naquele momento e explicar-te que como tu gostavas de mim, eu gostava de ananás, de sair à noite, de comprar azulejos nos antiquários.