há dois tipos de pessoa que vais conhecer ao longo da tua vida. um deles vai deslizar o dedo pelo índice de quem tu és e saltar directamente para as partes que lhe despertam interesse. o outro vai levar o seu tempo a ler cada um dos teus capítulos e se calhar até dobrar os cantos das partes que mais o/a inspiraram. vais conhecer estes dois tipos de pessoa; é um facto garantido. é o terceiro tipo de pessoa cuja entrada na tua vida nunca te apercebes. aquela única pessoa que não só termina as tuas frases mas continua o livro.
um dia levo-te o pequeno-almoço à cama, dizia-lhe ele. já na altura ela não acreditava em tais palavras proferidas de maneira demasiado espontânea e agora ainda menos acredita. não gosto de migalhas na cama meu amigo, respondia-lhe ela. 

isto. todos os dias.
deitada na relva dum jardim desconhecido olhava para o céu demasiado estrelado para uma noite fria de outono. o frio chegara mais agreste do que o habitual e fazia tremer cada osso do corpo. sentiu ele a dar-lhe a mão e a ficarem deitados numa paz que poucas vezes tinha experienciado no último mês e deu por si a pensar em como o cenário até era romântico. romântico até que ouviu o pedido que ele lhe fez ao ouvido e soube instantaneamente que ali não havia romance, nem amor, nem paz sob as estrelas numa noite fria de outono. haviam sim pedidos sussurrados e noções alteradas devido ao que quer que se tivesse ingerido na festa da qual escapávamos. deitados de mãos dadas parecíamos ter tanto amor entre nós como azeite e vinagre. é pena.