às vezes precisamos de parar de analisar o passado, parar de planear o futuro, parar de pensar em como nos sentimos, parar de decidir exactamente o que queremos e apenas ver o que acontece.
jantei a mesma coisa que almocei no dia em que fomos mais que amigos. impressionante como até os sabores nos conseguem transportar para outras realidades. naquele dia quase me obrigaste a comer, hoje a minha fome era intransponível. hoje conseguiste tirar-me a boa disposição, naquele dia quase que morri a rir. todas as coisas mudam mas o elo de ligação permanecerá sempre igual.
disse com a voz mais calma, mais mágica, mais pura, mais verdadeira de todas. baixou os olhos por momentos, as pálpebras desciam suavemente como num passo de ballet. o seu vestido de verão em pleno inverno dava-lhe aquela graça intemporal. ajeitou o cabelo agora cheio de nós mas onde antes estavam ondas que segundo ele, faziam lembrar as ondas do mar, e pigarreou que o futuro era longínquo e que era aquela parte do tempo tão clara dentro de nós. ela, que não acreditava no futuro. ela que apenas se importava com o presente, e com as noites em que ele não a deixava dormir por tentar caçar borboletas. mas disse. disse que o futuro era claro apesar de longínquo e eu acreditei.

se eu soubesse, faria tudo diferente. aliás, não faria nada. aquele dia era o dia errado. as estrelas não estavam alinhadas. acreditas em estrelas?
ando vazia e continuo a enganar-me com jantares italianos, cafés de viena e dias inteiros a ver televisão. percebi que adormeci demasiadas vezes com o telemóvel em cima da barriga para o sentir, caso ligasses a horas indecentes. percebi também que nunca o chegaste a fazer.