há dias muito bons e há dias muito maus. nos dias maus acho que não vou ter nunca mais dias bons. nos dias bons, sei bem que amanhã pode ser um dia mau.
lembro-me de um dia em que não estávamos entusiasmadas, porque a vida não nos andava a correr da melhor forma. ouvimos música em silêncio, e as únicas palavras proferidas foram de lamento, de tristeza. sentámo-nos, ausentes. lembro-me também que senti um vazio no peito - só mais um. estávamos assim porque saímos vitoriosas mas com o coração desfeito. rimos à gargalhada, escondemos o que a alma queria mostrar, sentimo-nos enredadas pelo pó da sorte, e no entanto, desiludidas, adormecemos a pensar nas pessoas que não nos deixavam dormir. connosco sempre foi assim.
o ponto fraco do ódio é o arrependimento. o ódio é um fraco conselheiro, limita-se a partir todos os espelhos da casa e a esperar que ninguém repare. o que é frequente, porque é mais um mecanismo de defesa do que de ataque - para alguns, uma necessidade. depois há quem prolongue o engano e há quem, com menos talento, o deixe quebrar-se. nem sempre o arrependimento surge a tempo e nunca é dócil. quando chega, chega lento corroendo como um ácido até ao osso. não há dor que mais doa do que a que se insinua fora de prazo.
quando todos os acidentes falham, resta seguir o plano, porque não parecendo, é do caos que nascem os maiores silêncios.
o acaso, que tanto nos tenta, é o santo padroeiro das oportunidades perdidas. não resiste a sublinhar a infinidade de possibilidades a cada passo e que, por cada singular opção, todas as perdas são possíveis. como rejeita a lógica mais caseira, o acaso proclama com orgulho: qualquer rua sem saída pode levar a qualquer lugar.