sorri onde só haviam lágrimas, disse para acreditar quando eu própria não o fazia, enchi de vida o que estava morto e chorei. chorei até não poder mais porque pela primeira vez não acreditava no que estava a dizer, porque vi a morte a pavonear-se e o cheiro.. aquele cheiro. sorri onde só haviam lágrimas. as minhas lágrimas.
noutra vida vou apaixonar-me por um terrorista curdo de olhos escuros e barba cerrada. recebo cartas-de-amor numa língua que não entendo em que todas as consoantes têm cedilha mas sei que são cartas-de-amor a sério. respondo num turco imperfeito roubado num qualquer translate on-line.
continuo a achar que dançar foi a melhor coisa que Deus inventou. a seguir a isso só as tardes de mulheres a arranjar as unhas à volta de uma mesa. escolher a cor é um ritual secreto que se vai confundindo entre conversas sobre os idiotas que nos perseguem. depois vem uma gargalhada, depois um conselho faz assim, por fim a combinação para a próxima vez.
há dias muito bons e há dias muito maus. nos dias maus acho que não vou ter nunca mais dias bons. nos dias bons, sei bem que amanhã pode ser um dia mau.
lembro-me de um dia em que não estávamos entusiasmadas, porque a vida não nos andava a correr da melhor forma. ouvimos música em silêncio, e as únicas palavras proferidas foram de lamento, de tristeza. sentámo-nos, ausentes. lembro-me também que senti um vazio no peito - só mais um. estávamos assim porque saímos vitoriosas mas com o coração desfeito. rimos à gargalhada, escondemos o que a alma queria mostrar, sentimo-nos enredadas pelo pó da sorte, e no entanto, desiludidas, adormecemos a pensar nas pessoas que não nos deixavam dormir. connosco sempre foi assim.