quando vem o calor, abrimos as portadas e passamos as noites cá fora. ligamos o candeeiro da rua e sentamo-nos na cadeira de baloiço. calam-se as cigarras e há um silêncio repentino que atravessa os pinheiros que irrompem do pátio, destruindo o chão, que atravessa as ribeiras que se conseguem ouvir quando se está muito concentrado e as estradas de terra batida. escutamos sempre em silêncio o último grito dos pássaros de regresso a casa: o cuco, lá no fundo do vale, o mocho que habita a parte superior da nossa lanterna marroquina e um bando de aves em direcção ao sol poente. se for noite de lua cheia, apagam-se as luzes dos candeeiros e velas e ficamos com o luar que recorta nas paredes despidas de cor a silhueta das bunganvílias. há um som constante da água que cai no tanque, como o fluir do tempo, e um murmúrio do vento atravessando os ramos do limoeiro.
tu sabes que quando vem o calor, o teu lugar sempre foi ao meu lado. ao abrir as portadas e passar as noites cá fora, portanto, vem.