
fazias origami e falavas baixo porque dizias não gostar que as pessoas ouvissem a tua voz. essa era uma das coisas que mais gostava em ti. era profunda e parecia sempre arrastar-nos, puxar-nos mesmo num tema de conversa não tão interessante. andavas sempre com o teu caderno atrás para todo o lado e mergulhavas nos papéis já escritos e sujos de carvão a qualquer hora do dia. foi contigo que o bichinho de escrever, anotar o que quer que fosse, começou a crescer e foi por ti que ganhei o hábito de amontoar cadernos e cadernos cheios de pensamentos, histórias reais e pouco reais, ideias. sonhavas alto, dizias-me uma citação de um filme qualquer que te viesse à cabeça no meio de uma conversa absolutamente banal, rasgavas os pacotes de açúcar e fazias aviõezinhos de brincar. eras tão diferente em todos os aspectos e era isso que me fazia gostar tanto de ti. era a maneira como soltavas uma gargalhada sonora e atiravas a cabeça para trás. era a maneira como vias a vida e como me ensinaste a encará-la. era tudo isso que fazia de ti a pessoa que eu conhecia tão bem. conhecia, já não conheço.